100 dias de governação

Luisete Macedo Araújo
candidata às presidenciais 2009
14 de Janeiro 2009

"Teríamos aplaudido se o intelecto nos dissesse que a quantidade bruta se sobrepõe a qualidade justa. Como diz o contrário, prefiro seguir a voz da razão e o eco da minha consciência. E como o meu subconsciente adverte-me não vergar diante do sensacionalismo, mantenho a minha linha que dá prioridade a necessidade da crítica, até que o equilíbrio se transforme em lei. Enquanto o equilíbrio na gestão da coisa pública for excepção, prossigo a obrigação de privilegiar a denúncia do que vai mal. Esta é uma das melhores formas de se solidarizar com as massas, quando se está desprovido de meios."

Por conseguinte, tenho a dizer que: a dinâmica administrativa do governo actual nos vários sectores da política, do social e da economia, segue o seu ritmo normal que é caracterizado pelas estratégias que foram projectadas desde os anos anteriores às eleições passadas.

Falar de 100 dias, teria grande realce e sentido se esses estivessem compactados numa lógica de inovação das suas políticas de governação, conciliadas com as linhas orientadoras e os mecanismos de acompanhamento da prossecução do que fora programado. Os alicerces que sustentam o edifício, são velhos, não foram rectificados desde que o partido da situação existe.
Portanto, as obras que apreciamos aparentam os mesmos estilos e prosseguem os mesmos objectivos iniciais. Ou seja: fazem de contas que se avança para o bem comum, quando na realidade, a uns se oferece uma gruta, e a outros um palácio. Isto, não é só uma grande violação aos valores morais, é acima de tudo um atentado à "personalidade" individual do cidadão.
Não é preciso chamarmos inútil a alguém, quando pretendemos reduzi-lo a zero; basta este tipo de procedimento descriminatório. É o que vemos agora.

O desdém com que muitos se oferecem a falar das casas que são destinadas ao povo como uma das maiores conquistas do governo, quando ninguém se dignou em permanecer um único minuto dentro delas ao meio dia, ou 10 minutos em convivência com a gente que habita tais aglomerados, espelha bem o que se pretende para com os angolanos. Angola está a estratificar-se por camadas bem agrupadas, com gente muito bem seleccionada. Basta ver o que são clínicas e para quem se destinam os hospitais.

Numa única palavra, digo que não é justo. As eleições ou o seu resultado, ao meu ver, não alteraram até aqui o curso dos acontecimentos. Repito o que tenho vindo a dizer: na conjuntura, não são os homens que devem ser avaliados. O que deve ser vigiado, são os princípios que definem as metas a atingir pelos sectores afins. Não pretendo tirar o mérito individual a nenhum dos governantes, sobretudo no que toca à coragem que muitos têm em negar as orientações que em nada abonam os interesses do colectivo.

A verdade é uma: no meu ponto de vista, o governo deveria fazer um compasso de espera, rever e rectificar o seu programa e o Presidente da República que também é o chefe do governo, por sua vez, deveria ter a coragem de vir a terreiro e reconhecer que cometeu-se erro na concepção e se tem precipitado na materialização do programa de Construção e Reconstrução de Angola.
Estamos a esbanjar muito dinheiro que daria para coisas muito mais úteis ao povo no geral; continuamos a nada fazer na preparação dos angolanos; continuamos a assinar contratos que privilegiam a importação de cérebros e mão-de-obra estrangeira; continuamos a menosprezar e a não consultar o povo que dirigimos; continuamos a coarctar politicamente as consciências dos quadros e intelectuais, e a investir em futilidades que em nada beneficiam a maioria; as mortes nas estradas e outras que não têm nada de natural e em número assustador, espelham igualmente o real interesse deste governo em resolver os problemas do povo. Não é só SIDA, é má governação.

Para terminar, sou sincera em dizer que: "Estamos retidos na maior sequência de problemas burocráticos. Só não se atomizam as gafes desta governação porque o povo angolano é um dos mais educados do mundo."

Jornal AGORA

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