ENTREVISTA COM LUISETE ARAUJO
CANDIDATA AS PRESIDENCIAIS 2009
Folha 8 Novembro 2008

Folha 8 – Como se sente a entrada do ano das Eleições Presidenciais 2009?

Luisete Macedo Araújo – Estou consciente que terei muito trabalho pela frente, mas sinto-me motivada pois, enquanto existir a miséria nas proporções que se verifica em Angola, batalharei por esta causa. Angola é um super país, com riquezas imensas, mas com um índice de corrupção altíssimo. Ora, nós andamos aqui a confundir crescimento com a exploração de petróleo e desenvolvimento com a construção de casas. Pelo que sabemos, o desenvolvimento mede-se com um bom nível de vida do povo na sua maioria – não é o que acontece em Angola. “Quero fazer de Angola uma grande nação com ajuda de todos”.

F8 – Qual deve ser a prioridade de um novo presidente?

LMA – A missão primeira com a eleição de um novo presidente será a de “devolver Angola ao povo angolano” e acabar com a Dinastia que reina em Angola durante 34 anos. Somos 14, 15 ou 17 milhões de angolanos, temos os mesmos direitos de assumir os destinos de Angola. Dentre os milhões, outros há, capazes de servir muito melhor este povo que sofre a mais de 500 anos. Se não quebrarmos este ciclo vicioso de governação de pais para filhos, de sobrinhos para compadres, daqui a mais alguns anos será muito pior. Onde é que andam os quadros técnicos, os intelectuais, os patriotas angolanos, a nossa Armada dos jovens universitários que em todos os países são a força de transformação, agrupada e organizada nos ditames da classe média? Será que somos nulos, todos incompetentes? É a questão que procuramos responder com um novo quadro de dirigentes, com um novo presidente que ao ser eleito vai repensar Angola para o Bem-estar dos angolanos?

F8 – E o que falta para se mudar este quadro actual?

LMA – Dentre outras premissas, é preciso acabar-se com o espectro do medo e o espírito de subserviência que dominam muitos angolanos. Pois, eu penso que os angolanos precisam não só de se sentirem, mas de, na realidade prática serem livres de pensar, livres de poderem expor suas ideias, livres de dizerem “Não” à tudo que não lhes convém. Livres de agirem, numa só palavra livres de viverem em Paz e verdadeira harmonia no país que lhes viu nascer. Ou seja, os angolanos merecem muito mais e melhor. Angola está comprada e as nossas consciências estão amordaçadas, nos conformamos com o sofrimento.

F8 – Qual o rescaldo que se oferece fazer sobre a dinâmica empreendida até agora e desde que se decidiu candidatar-se?

LMA – Acho que é bom, se bem que, toda a avaliação só poderá ser feita no dia do veredicto das urnas. Não importa, valerá sempre a pena. Pois, o povo precisa de ser esclarecido e como não temos acesso aos órgãos de comunicação de massas, nomeadamente a Rádio Nacional ou a TPA que são de cobertura mais nacional, o período da campanha será uma ocasião soberana. Contudo, estive em cinco províncias: Kwanza Sul, Kwanza Norte, Malange, Cabinda e Bengo. Nas últimas três semanas estive com o presidente da UNITA Isaías Samakuva, com o presidente da FNLA Ngola Kabango e esta semana com o presidente do PRS Eduardo Kwangana. Foram visitas de cortesia onde abordamos vários assuntos relacionados com o país entre os quais as eleições presidenciais. Mas, mais do que tudo, é para o povo em geral que pretendemos comunicar e fazer passar a nossa mensagem de fé no futuro e maior confiança naqueles que formarão a nossa equipa e irão conduzir Angola a partir das próximas eleições.

F8 – Encorajamentos e decepções?

LMA – Tenho recebido apoios e encorajamentos de várias franjas da sociedade. Decepções: no quadro do meu programa de pré-campanha, não tenho nada a lamentar. Mas, volto a mencionar as muitas irregularidades que aconteceram nas eleições legislativas do corrente ano, entre as quais a falta de cadernos eleitorais, o facto da votação ter acontecido em dois dias, etc.

F8 – Como será composto o Estado-maior da sua campanha?

LMA – Em Janeiro já saberão. Terei um director de campanha, um porta-voz, um advogado e cinco conselheiros para as diversas áreas: Habitação, Educação, Saúde, Economia, Politica e Relações Internacionais.

F8 – Para além das capacidades e competências académicas, intelectuais e políticas, as campanhas exigem dos candidatos um sustento administrativo ou financeiro considerável. Em que pé estamos? Conta com apoios externos?

LMA – Estou na corrida e estou tranquila. As minhas possibilidades financeiras não são muito famosas, mas eu tenho uma voz para ser ouvida. Claro que conto com o apoio financeiro de todos os Angolanos e não só, quem quiser fazer uma doação pode fazê-lo. Estou a preparar o meu quartel-general e os meios estarão a altura para as exigências de uma campanha, sobretudo em Angola onde somos levados a concorrer de forma desleal, onde o presidente em exercício tem todos os poderes e meios ao seu dispor.

F8 – Segundo dados e salvo um cenário rocambolesco, José Eduardo dos Santos a 30 anos no poder, por critérios não normais, vai permanecer no posto em 2009. Pois, tornou-se dono de tudo: banco, imprensa; polícia, exército, justiça, serviços de segurança secreta, etc. Não tem medo?

LMA – Medo é o Sr. Jornalista quem o diz. Quanto a mim, o que posso dizer é que o Sr. José Eduardo dos Santos não é nenhum Deus. É presidente de Angola sim senhor, mas não está acima da lei. Mas parece-me que todos estão rendidos e ninguém ou quase ninguém consegue ver que JES, tira muito bom proveito do sufoco que o povo sofre. Em 1992 JES, não conseguiu ganhar Jonas Savimbi e todos sabemos. O cenário poderá repetir-se, mas estamos preparados. O povo não irá votar mais um presidente que só ama Angola, mas não ama o seu povo; não vai votar um presidente que comprou tudo até a consciência de muita gente.

F8 – como se propõe lutar contra a batota nas urnas?

LMA - Nós lutaremos para que o voto do povo seja justo e sem pressão. A nação Angolana não pode ficar refém de ninguém, o povo vive no limite do medo e da desgraça há 33 anos. Angola terá um novo presidente em 2009, o povo deve ser ensinado a contemplar esta realidade. Perguntou-me se estou com medo? Acredito que a Policia, o Exército e o Sinfo, são forças que querem o bem da nação, são irmãos angolanos como eu, que querem o bem do povo, não são armas lançadas contra os seus próprios irmãos. Por isso servem a nação, eles são os nossos filhos, pais, primos, amigos e sabem muito bem quem anda de facto a mexer no que é de todos nós. A justiça é um bem valioso que o criador deu aos homens. Este cenário rocambolesco já está a acontecer e depende também de vós jornalistas. Obama não ganhou sozinho. Por isso, o povo vai entender que pode vencer José Eduardo dos Santos porque quer se sentir livre. Todos nós dependemos agora do voto popular e eu conto com a razão do povo que vai me dar este voto para ser eleita presidente de todos os angolanos. Gostaria de alertar, não haverá câmaras ou computadores vigias nos recintos de votação – deve haver sim a vontade de um povo que deve vencer o seu sofrimento através da escolha de um novo presidente.

F8 – Quais as linhas de força do seu programa de campanha: Politica; Sociedade; Economia ou o homem Angolano?

LMA – Apostar na Educação e Bem – estar do homem Angolano. Tenho um programa ambicioso, inserido num projecto global que será detalhado no momento exacto.

F8 – Vai fazer valer a sua condição de Mulher?

LMA – Sim, porque são elas que mais sofrem neste país. As mulheres são vítimas nos campos, como quitandeiras ou peixeiras na dita zunga onde são sistematicamente violentadas pela nossa polícia, nos seus lares onde muitas são espancadas pelos seus maridos. Mas é necessário um árduo trabalho para poder ter o apoio delas, mas digo: Angola precisa de um presidente que ame o povo e projecte o país para o mundo desenvolvido, seja homem ou mulher.

F8 – Mas vai capitalizar nas mulheres?

LMA – O meu programa envolve todas as forças vivas e se destina a beneficiar igualmente todos angolanos independentemente do que eles sejam, inclusive os estrangeiros que reconheçam que devia-se dar mais e maiores oportunidades aos filhos da terra como aliás acontece em todos os países livres do mundo. Entretanto, como o bom senso induz e todos nós não reprovamos, a mulher que é o princípio de tudo, precisa de muito mais carinho, muito mais respeito e consideração. A sociedade angolana precisa de mais Moral, mais regras de conduta assistida, precisa de mais amor para todos poderem ter muito mais confiança no seu futuro e certeza de vencerem na vida a partir do que cada um sabe e quanto vale como ser humano, como cidadão, desde pequeno até a idade adulta, como trabalhador obreiro e edificador. E, tudo isso começa com a mulher esposa, a mulher mãe, a mulher educadora, a mulher que se sacrifica para criar um filho que também possa almejar um dia vir a ser, se não o presidente de Angola, um ministro digno disso mesmo.

F8 – E, quanto aos jovens, o que pretende fazer?

LMA – A juventude, em todas as sociedades constitui a alavanca de todos os programas. A juventude para o caso específico de Angola é a única esperança. Tal como no passado para fazer a guerra contra o colonialismo e durante a guerra fratricida, a juventude serviu como força motriz. Sem os jovens nada se pode fazer. Mas os jovens têm de estar investidos de conhecimentos a justa medida do presente que exige muito mais do nosso cérebro. Por isso, é urgente reformular os programas de ensino e conciliar a formação profissional com as necessidades de Angola para o presente e para o futuro. Não só reestruturar e apetrechar as faculdades, mas sobretudo reavaliar o programa das disciplinas e técnicas de ensino e aprendizagem e apoiar sobremaneira todas as iniciativas e esforços que dela advenha. É o legado mínimo que os mais velhos podem deixar para a futura geração de dirigentes e não só.

F8 – E no quadro social em geral?

LMA – De resto tudo vai por si. Que o rico sinta o prazer de viver a sua riqueza na paz de espírito e na companhia dos seus sem receio de vir a ser assaltado; que o estrangeiro de facto venha investir em Angola numa relação de respeito e num quadro leal do dar e receber e não de espoliação nua e crua das nossas riquezas; que ao povo jamais lhe falte o pão e que sinta de facto o orgulho e a dignidade de ser Angolano; que as nossas crianças deixem de chorar. Pois, o Angolano já provou que é muito inteligente, é empreendedor e merece muito mais. Só, infelizmente o Angolano não é dono de Angola, não é mestre de seu destino e na verdadeira acepção da palavra, o Angolano ainda não se sente livre.

F8 - Está a acompanhar a implementação do projecto de Reconstrução Nacional?

LMA – O programa de Reconstrução Nacional está mal concebido e suas estruturas são inadequadas para aquilo que se pretende para Angola de hoje e a terra que vamos deixar para os angolanos que porventura venham a herdar Angola amanhã. Pois não podemos construir uma Angola a pensar somente nas próximas eleições. Temos de construir uma Angola para daqui a 50/100 anos, até para o conforto de nossos bisnetos. É assim que se construíram os países e sociedades do mundo desenvolvido.
O governo está muito mais preocupado em erguer paredes e colocar luz nas ruas do que reconstruir uma Angola para todos os angolanos. A reconstrução de Cabinda, não pode ser diferente da reconstrução do Moxico, do Kwanza Sul não pode ser diferente da do Uíge. A reconstrução de Luanda não pode ser melhor ou superior da Angola do kuando kubango. O dinheiro de Angola está a ser muito mal aplicado, muito mal gasto. O dinheiro de Angola está a ser desviado para fins não próprios e como cobertura estão a mostrar obras que não valem o que dizem.

F8 – Dentro e fora do país dizem que os angolanos são muito imprevisíveis. Sempre parecem ser, ou seja: o que dizem fazer hoje, não é o que realmente fazem no dia seguinte. Não teme este comportamento?

LMA – Sei que agora será diferente. Com as refregas das guerras e dos dois pleitos eleitorais de 1992 e este que foi mais desastroso do que o anterior, o povo ganhou maturidade, vamos crer que está de sobreaviso. O facto do MPLA ter tido a maioria isto não lhe garante uma vitória antecipada nas presidenciais. Mais de dois milhões de pessoas não foram as urnas e outras tantas abstenções. O povo não vai hesitar. Pois o povo quer mudar o ritmo de vida, quer experimentar outra coisa, para outras perspectivas. Este povo maravilhoso merece muito mais.

F8 - Que considerações faz em volta da opinião de Justino Pinto de Andrade, segundo a qual devia-se deixar o presidente Eduardo dos Santos cavalgar sozinho para as presidenciais.

LMA - Considero isso uma cobardia e sobretudo uma traição.

F8 – Pode consubstanciar isso?

LMA – “Nós não estamos na política para ganhar troféus”, mas sim para servir aqueles que não podem falar, exprimir seus desejos e expressar suas mágoas. Somos candidatos porque tomamos consciência do dever que temos a cumprir.
Traição porque, a partir do momento que nos assumimos como líderes de massas, tem de ir até as últimas consequências. Deixar o povo a sua mercê, é trair a nossa própria consciência.

F8 – O que se oferece dizer correlação a realização das eleições legislativas antes das presidenciais?

LMA – Considero uma autêntica impostura. Não faz sentido, aliás é ilegal, não é lógico. O nosso regime é semi-presidencialista, o que significa dizer que é o presidente que homologa e empossa o governo através de um primeiro-ministro, que é emanação sua, portanto é por si nomeado. Logo, como é que um presidente em fim de mandato vai acreditar um governo que poderá ser destituído por um outro que será eleito. Qual o comportamento de um ministro que não sabe ao certo se permanecerá no cargo que lhe foi atribuído?
Portanto, por mim, logo depois do debate sobre o OGE, devia ser este o dossier sobre o qual o Parlamento devia se debruçar.
Se for eleita presidente de Angola, as províncias vão escolher através das eleições autárquicas os seus governadores e administradores, só assim caminharão rumo ao desenvolvimento e bem-estar.

F8 – Que comentários tem a fazer sobre a vitória de Barack Obama nos EUA?

LMA – Realmente não deixa de ser um facto inédito. Os EUA deram uma grande lição de ética democrática ao mundo. Obama fez um percurso remarcável e muitos não acreditaram até a última hora que um dia isto seria possível. Mas, ao mesmo tempo que o felicitamos, gostaríamos de recordar aos angolanos que Obama é americano, que América tem seus problemas que não têm nada a ver com os problemas dos Angolanos e que os problemas de Angola são específicos e naturalmente carecem de soluções que são peculiares. Não nos esqueçamos um minuto: “O destino de Angola só aos angolanos diz respeito”.

F8 – O que tem a dizer sobre o voto no exterior?

LMA – Não há razões absolutamente nenhumas que justificam o Angolano da diáspora não votar.

F8 – Qual a sua mensagem de fim de ano?

LMA – Primeiro: quando as pessoas em 2009 saírem de suas casas para votar, que não se esqueçam de como estão a viver e como gostariam de viver. Não votem naquelas pessoas que estão a comprar a sua consciência com certos bens. Que apostem naquela pessoa que vai na verdade criar uma estrutura sólida para a família, que lhes garanta uma velhice tranquila amanha, com uma aposentação que lhes permita alimentarem-se com assistência social garantida, com assistência médica e medicamentosa garantida na companhia de seus netos. Hoje toda gente, sobretudo as mulheres está na rua a vender. Mas, já pararam para pensar o que vai ser delas na velhice, como é que vão suportar o futuro, quem é que lhes vai alimentar... será que terão um hospital a altura onde poderão ficar internadas com uma assistência médica apropriada caso adoeçam?

F8 – Não acredita nos esforços do governo?

LMA – “Duvido que este governo e presidente façam melhor até 2009. As estatísticas do MPLA, dizem que o país está a melhorar. Mas, a realidade do dia-a-dia demonstra que os pobres estão mais pobres, a vida tornou-se mais cara. Muito embora algumas excepções, as obras que estão a ser realizadas são uma fantochada e só admitidas num país africano como é Angola. As somas astronómicas de dólares que são desviadas, os gastos injustificados e outro dinheiro muito mal aplicado, deveriam servir para salvar milhares de vidas. Pergunto: como estamos a viver? O governo diz que bem. Autêntica promiscuidade por Angola fora: pai e filho fazendo filhos na mesma casa, não há casas para os jovens que querem autonomia e começar suas vidas longe dos pais. Eu pergunto: O que aconteceu com os angolanos... e com os próprios cristãos conhecedores da justiça de Deus? Em pouco tempo nos tornamos piores que os escravos. Ninguém reage. Estou abismada com a ganância, a hipocrisia, a incúria, a vaidade numa cidade de lixo e buracos. Que tipo de líderes são os que temos? Dirigentes que não conhecem Angola, tão pouco o povo que dizem governar? Somos assim tão tolerantes, ou escravos da nossa humildade? Ideias destorcidas, projectos mal concebidos, enriquecimento brutal de uma minoria; empobrecimento do povo perante o pior cenário apocalíptico que jamais se pode imaginar. Angola é uma sociedade decadente, doente, onde o dólar se sobrepõe a moeda nacional kwanza. Os dirigentes, os mesmos desde 1974, alternando com filhos, sobrinhos e compadres, todos andam na luta dos dólares para comprarem aviões particulares, enquanto uma mãe no musseke, não tem 50 Kwanzas para comprar um pão para o seu filho. Em 2009 o povo deve estar sedento de JUSTICA E MUDANCA!
Luisete Araújo, afirma: “Só acredito no desenvolvimento de Angola depois do povo eleger um novo presidente em 2009”. Que as pessoas votem para escolher o presidente que lhes garanta uma vida melhor e que seja mais sério. Desejo um bom natal para os Angolanos de Cabinda ao Cunene. Um Ano Novo Próspero. Que Deus Abençoe Angola.