- Reflexão -
Tirar a mulher angolana da pobreza
Repetidas vezes tenho dito que um dos grandes erros dos africanos, em particular dos angolanos foi não ter investido nas mulheres. Nada substitui a educação. Se verificarmos bem, salvo algumas excepções, grande número de jovens que erram pelas sociedades, são filhos de pais, cujas mães, não têm instrução académica ou formação adequada.

As coisas agravaram-se muito mais depois de 1975 em que o número de mães precoces aumentou consideravelmente devido a guerra. Muitas mães casadas viram-se desposadas forçosamente dos seus maridos, uns violentados para tropa, outros apanhados no fogo cruzados morreram bruscamente.

Naquele tempo muito poucas senhoras eram letradas e viram-se de noite para dia obrigadas a suportar seus filhos. Como todos sabemos, a educação que faz do homem um ser social aceite por todos é a educação do lar. As mães na sua maioria, não só não podiam dar esta educação, mas viram-se desautorizadas pelos seus filhos habituados a autoridade dos pais. Resultado, as portas se escancaram e os miúdos de tenra idade mergulharam para o mundo da bandidagem, onde ninguém respeita ninguém e tudo se resolve pela violência. Depois foram os recrutamentos forçados para tropa e a falta gritante de meios de primeira necessidade o que tornou estes filhos ainda muito mais rebeldes.

Com os filhos foram também as filhas que do outro lado deste mundo violento, tornaram-se mães sem o mínimo de condições. Analfabetas, porque negaram a escola ou se para lá iam, era apenas para ganhar outros vícios.

Esta é uma longa estrada que conduziu a mulher para a desgraça. E com ela foi esta nova geração que apenas muito poucos escapam.

A mulher como ao longo dos trinta anos não foi preparada, não aprendeu, não ganhou os mecanismos que a possibilitariam encontrar soluções para superar as inúmeras dificuldades. A pobreza é evidente, muito mais nas mulheres rurais, lá na Angola desconhecida ou ignorada.

Como melhorar a condição da mulher angolana?
Uma das medidas chaves, a primeira de todas as que pretenderemos tomar, é convencer todos os actores da dinâmica social que a mulher deve voltar a ser a mãe de ontem, educadora, conselheira, amiga. Temos que diminuir os gastos em projectos muito dispendiosos e que não têm prioridade nenhuma. Antes de erguermos grandes palácios, devíamos ter o mínimo de sentimento. Não acredito que, como concidadãos, temos a coragem de olhar para esta pobreza, dizer que não há meios, quando ao lado estamos a construir sociedades burguesas, com luxo muito superiores aos que se pode encontrar em países onde o pobre tem as condições dignas para viver.

A mulher precisa de ser apoiada materialmente. É urgente estudar-se a politica dos subsídios de maternidade, os apoios as mães solteiras, rever-se a politica dos pequenos negócios já que o projecto das Pequenas e Médias Empresas não teve o resultado esperado. Em paralelo, obrigarmos a mulher a instruir-se ou a aprender uma profissão que realmente se pode ter o mínimo de certeza que encontrará emprego. Hoje isso não é possível em Angola, porque a politica do governo não é de criar emprego, é de importar mão-de-obra. Isto complica todo o esforço de resolução sustentada ou de longa duração. Pois, também não só apologista da teoria do Estado Providência ou seja, passar a dar esmolas à toda a gente. Mas, como o Estado ainda não conseguiu dar as oportunidades para as pessoas poderem conseguir o seu sustento pelo esforço próprio, este mesmo Estado é obrigado à dar o que o cidadão precisa. Lembramos que, por causa desta politica de desprezo ao próprio cidadão angolano, Angola está a conhecer uma escalada de violência jamais vivida. E infelizmente quem sofre são outra vez os pobres, pois os que têm meios vivem em zonas bem protegidas.

É na realidade por isso que os governantes actuais pouco ou nada fazem para encontrar fórmulas de dar o mais elementar, não só para mulher poder viver, mas para que ela possa fazer viver outros membros da família. É preciso que os governantes, desçam até as ruas, visitem as praças, conversem com as mulheres, mães ou não, para se inteirarem do estado de desgraça que vivem. Muitas são aquelas que se perguntam, porquê que seus filhos morreram na guerra, ou porquê que seus maridos trabalham.

É difícil perceber, qual de facto é o programa do governo para solucionar as crises. É patente, a situação está insuportável e requer uma reacção urgente. A solução no presente passa impreterivelmente pelas subvenções e subsídios. Tenhamos compaixão para as crianças que não têm culpa do que passam e não deviam ser penalizados. A pobreza das suas mães, é guia assinada para o mundo da delinquência e sinceramente pelo que vemos não creio que o governo tem a noção do tipo de geração está a formar agora para o futuro, salvo se é propositado o que se está a fazer. Manter a maioria miserável para que a fortuna continue concentrada em muito poucas pessoas.
LMA

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